Estudo revela presença de etanol em pães de forma, mas especialistas esclarecem que o consumo não resulta em teste positivo duradouro no bafômetro
O mito de que o consumo de pão de forma pode resultar em um teste positivo no bafômetro tem circulado na internet, preocupando muitos motoristas. Entretanto, a realidade é bem diferente do que as notícias falsas sugerem.
Etanol em pães de forma
A polêmica começou quando a Associação Brasileira de Defesa do Consumidor divulgou um estudo sobre a presença de etanol em pães de forma industrializados. Esse etanol é decorrente do uso de conservantes anti-mofo aplicados no alimento para aumentar sua durabilidade nas prateleiras dos supermercados. De acordo com o estudo, algumas marcas de pão de forma contêm volumes de etanol em pães de forma que, se ingeridos em grandes quantidades, poderiam, teoricamente, causar alcoolemia, ou seja, a presença de álcool no sangue.
Essa informação alarmou muitos consumidores e motoristas, levando à suposição de que o consumo de pão de forma poderia resultar em um teste positivo no bafômetro. No entanto, é importante destacar que o estudo não realizou testes com o etilômetro, aparelho usado para medir o nível de álcool no sangue de motoristas em ações de educação e fiscalização realizadas pelo Detran SP, por exemplo.
O estudo sugere que a ingestão de duas fatias de algumas marcas de pão de forma poderia apresentar um risco teórico de resultados positivos em testes de bafômetro. Contudo, caso ocorresse, esse resultado seria um falso positivo. Quando ingerimos alimentos contendo etanol, como o etanol em pães de forma, a nossa cavidade bucal pode temporariamente apresentar traços de álcool. Esse álcool, porém, é rapidamente dissipado na interação com o ar e, dentro de 10 a 15 minutos, já não seria mais detectável pelo bafômetro.
Isso significa que, mesmo que um motorista fosse submetido ao teste logo após ingerir pão de forma, o resultado positivo seria temporário. O etanol presente na boca não representa um risco contínuo de alcoolemia, e o direito à contraprova, garantido pelo artigo 306 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB), permite que o motorista refaça o exame. Após esse curto intervalo, o resultado do teste seria negativo, demonstrando que não há alcoolização proveniente da ingestão de alimentos como o pão de forma.
Em um país tropical como o Brasil, onde as temperaturas são elevadas na maior parte do ano, o uso desses conservantes é essencial para reduzir as perdas de mercadorias, que podem chegar a 10% da produção total devido ao mofo. Apesar de o etanol em pães de forma ser utilizado nesse processo, sua quantidade é mínima e rapidamente eliminada pelo organismo. Além disso, a comparação com outros produtos que contêm álcool, como bombons de licor, vinagres e enxaguantes bucais, mostra que a evaporação do etanol é rápida e não representa um perigo real para os motoristas.
O boato de que o consumo de pão de forma pode resultar em um teste positivo no bafômetro é um exemplo claro de fake news. Embora o estudo da Associação Brasileira de Defesa do Consumidor tenha apontado a presença de etanol em algumas marcas de pão de forma, não há evidências concretas de que isso possa influenciar os resultados do etilômetro de maneira significativa e duradoura. O Detran e outras autoridades de trânsito reforçam que, mesmo em casos de resultados positivos temporários, o direito à contraprova garante que os motoristas não sejam injustamente penalizados.